domingo, 27 de junho de 2010
UM CORAÇÃO QUE SANGRA
Uma coisa e certa:
Não posso garantir o silêncio do meu
coração desesperado
Minhas ilusões desfilam nas avenidas das minhas
cosmopolitas artérias
Sou todo ritmo, um frenético folião na dança do
meu coração amargurado
Um coração que berra...
pula...
canta...
ama...
Que no calor da noite ás vezes sangra...
E se esparrama no leito da minh'alma
como um rio em chamas.
Tõe Roberto
quinta-feira, 24 de junho de 2010
RECORDANDO
Quem te roubou de mim,
levou-me a alma e sem ti...
não resta nada...
Quem te fez minha inimiga?
Quem contra mim conspirou?
Quem de mim te tirou o sonho?
e sem ele... não resta nada...
Quem te envenenou?
Quem te aprisionou?
Quem te encheu de ódio?
e com ele... não resta nada...
Quem te amordaçou a alma?
Quem te enfeitiça dia a dia?
Quem te amacia a pele?
e sem mim... não resta nada...
Verás a força que tenho
em te vencer...
jamais me vingo,
feia é a vingança...
Recordo apenas a mágoa na alma
que te sufoca...
e com ela... não resta nada...
Doce Pecado
domingo, 20 de junho de 2010
NA SOLIDÃO DA NOITE
A solidão da noite me acalenta.
Me envolve em seu braço materno
e me aconchega no seu abraço.
Durmo o sono dos justos e cavalgo
nas asas serenas da madrugada.
Sonho com um rosto... na névoa
Dou um sorriso...
Me encolho...
A solidão é minha alma gémea
não a troco por nada.
Tõe Roberto
sexta-feira, 18 de junho de 2010
POR SUAS PALAVRAS
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo. José Saramago
quarta-feira, 16 de junho de 2010
ARREBÓIS
Eu sempre espero o deslizar da tarde solitária
Sou alucinado por arrebóis, eu os acompanho
desde a infância.
É como uma doença, um vicio... os meus
suspiros e ais.
No auge vermelhidão, meu coração se incendeia...
E o fogo da minha paixão soma-se ao grande
incêndio da tarde.
E assim se fazem os grandes arrebóis, as grandes
fogueiras dos horizontes...
Os espetáculos inquestionáveis...
O quedar-me pleno.
Tõe Roberto
sábado, 12 de junho de 2010
O DIA DOS NAMORADOS
O dia dos Namorados
para mim é todo dia.
Não tenho dias marcados
para te amar noite e dia.
O dia 12 de junho,
como qualquer outro, diz
( e disso dou testemunho)
que contigo sou feliz.
Carlos d. de Andrade
terça-feira, 8 de junho de 2010
NÓS
Numa próxima será assim...
Despindo-te de tudo...
Oralmente desconcertando-te...
Até não mais poderes aguentar
esventras o que não conheces e
sentirás o que ainda não sabes...
Se doce ou pecado?
Pecado com certeza,
Pois teus beijos sabem sempre a pouco
e o desejo de nada tem de doce
apenas o tesão crescente de te
não ter.
novamente.
Doce Pecado
sexta-feira, 4 de junho de 2010
PERTURBAÇÃO
Quando estou, quando estou apaixonado
tão fora de mim eu vivo
que nem sei vivo ou morto
quando estou estou apaixonado.
Não pode a fera comigo
quando estou, quando estou apaixonado,
ams me derrota a formiga
se é que estou apaixonado.
Estarei, quem, e entende, apaixonado
neste arco de danação?
Ou é a morta paixão
que me deixa, que me deixa neste estado?
Carlos d. de Andrade
terça-feira, 1 de junho de 2010
ESTAMPA EM JUNHO
Agora em junho a gente não se enxerga
nítido, no espelho embaciado.
A manhãzinha são nevoeiros
móveis, flocos aspirando
a se tornarem cabrito, padeiro, bicicleta
a um metro de distância.
A fala, brancura de ar. Nem montanha
nem casas ao redor.
O tempo suprimiu os estatutos
da vida real. A liberdade
de meus passos faz-se bruma, eu próprio
sou alvo fantasminha divertido.
Experiência de não ser. Mas sendo para ver.
Carlos d. de Andrade
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