domingo, 30 de maio de 2010
PORQUE
Amor meu, minhas penas, meu delíro,
aonde quer que vás, irá contigo
meu corpo, mais que um corpo, irá um'alma,
sabendo embora ser perdido intento
o de cingir-se forte de tal modo
que, desde então se misturado as partes,
resultaria o mais perfeito andrógino
nunca citado em lendas e cimélios.
Amor meu, punhal meu, fera miragem
consubstanciada em vulto feminino,
por que não me libertas de teu jugo,
por que não me convertes em rochedo,
por que não me eliminas do sistema
dos humanos prostrados, miseráveis,
por que preferes doer-me como chaga
e fazer dessa chaga meu prazer?
Carlos d. de Andrade
quarta-feira, 26 de maio de 2010
AS ROSAS DO TEMPO
Admirável espírito dos moços,
a vida te pertence. Os alvoroços,
as iras e entusiasmos que cultivas
são as rosas do tempo, inquietas, vivas.
Erra e procura e sofre e indaga e ama,
que nas cinzas do amor perdura e flama.
Carlos d. de Andrade
sábado, 22 de maio de 2010
INVENTÁRIO
Que fiz de meu dia?
Tanta correria.
E que fiz da noite?
O lanho do açoite.
Da manhã, que fiz?
Uma cicatriz.
Bolas, desta vida
que lembrança lida,
cantada, sonhada,
ficará do nada
que fui eu, cordato?
Mancha no retrato.
Carlos d. Andrade
terça-feira, 18 de maio de 2010
TÁ RINDO DO QUÊ?
Ai, Amor da minha vida!
Linda!
Leve!
Alegre!
Impoluta...
Insaciável!
Me joga na cama, me executa.
Me consome a carne, me usa.
Engole a minha alma, me abusa.
Me lambe, me come, me chupa.
E me chama de macho, tesudo...
Tá rindo do quê?
Sua insaciável!
Tõe roberto
sexta-feira, 14 de maio de 2010
PARA O SEXO A EXPIRAR
Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante.
Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo.
Amor, amor, amor--o braseiro radiante
que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.
Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,
a minha se rebela ante a morte anunciada.
Quero sempre invadir essa vereda estreita
onde o gozo maior me propicia a amada.
Amanhá, nunca mais. Hoje mesmo, quem sabe?
enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer
antes que, deliciosa, a exploração acabe.
Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,
e assim possa eu partir, em plenitude o ser,
de sêmen aljofrando o irreparável ermo.
Carlos d. de Andrade
segunda-feira, 10 de maio de 2010
LUAR EM QUALQUER CIDADE
O luar deixava as coisas mais brancas.
As estrelas desapareciam.
As casas, as moitas: impregnadas
não de sereno, de luar.
Caminhávamos interminavelmente, sem ofego,
sem pressa.
Caminhávamos através da lua.
E éramos dois seres habituais e dois fantasmas
ao mesmo tempo.
Lá longe era o mundo
àquela hora coberto de sol.
Mas haveria sol?
Boiávamos em luar. O céu,
uma difusa claridade. A terra,
menos que o reflexo dessa claridade.
Tão claros! Tão calmos!
Estávamos mortos e não sabíamos,
sepultados, andando, nas criptas do luar.
Carlos d. de Andrade
quinta-feira, 6 de maio de 2010
PERDÃO
(Queria dizer-te tanta coisa..)
Queria dizer-te que...
Fico sem palavras perante o silêncio...
que odeio o silêncio...
O silêncio só serve para criar monstros...
Odeio o silêncio!
Queria dizer-te..
Perdão pelo que não fiz....
Perdão pelo que não disse...
Mas perdão!
Doce pecado
domingo, 2 de maio de 2010
POR MAIS QUE A AMADA CORRESSE
Por mais que a amada corresse
para encontrar seu Amado,
sua esperança desfez-se
e o táxi ficou...salgado.
O Amado pede desculpas
(se bem que não fez por mal)
e, para limpar as culpas,
dá-lhe um beijo não labial.
E por artes do cobreiro,
beija n`alma o corpo inteiro.
Carlos D. de Andrade
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